terça-feira, 1 de abril de 2008

Eleições nos EUA: Obama ou Osama?

Artur Romeu

Imagine a surpresa do telespectador norte-americano. O apresentador do noticiário referia-se a assuntos da política interna, porém a imagem sorridente, ilustrando o segmento, era a do arquiinimigo da nação. Na noite da segunda-feira 18 de fevereiro, o âncora do canal NBC News, Chris Matthews, comentava o controverso uso de frases atribuídas a outros políticos pelo senador Barack Obama, pré-candidato democrata à presidência dos Estados Unidos, a foto que aparecia ao fundo era a de Osama Bin Laden, líder da organização Al-Qaeda. O canal afirma ter sido um erro. A imagem não ficou no ar por mais de cinco segundos, mas não passou despercebida.

A assessoria de Obama entrou em contato com a rede imediatamente. O apresentador se desculpou minutos depois. No dia seguinte, Jeremy Gaines, porta-voz da MSNBC, dona da emissora, afirmou que “o erro era indesculpável”. Segundo a NBC (National Broadcasting Corporation), o funcionário, responsável pelo erro, foi repreendido.

Esta foi a segunda vez em que a semelhança entre o nome do senador e o do “terrorista” ecoa na mídia. Em janeiro de 2007, a notícia do telejornal da CNN (Cable News Network) era Obama, porém Osama aparecia ao fundo, com a pergunta “Where’s Obama?” sobreposta.

“Incidentes como estes, relacionados ao perfil do pré-candidato, tendem a crescer junto com sua popularidade”, afirma Paula Rubea, que leciona política internacional dos EUA no departamento de RI (Relações Internacionais) da PUC-Rio. Barack Hussein Obama, além de negro, é filho de um queniano, criado por mãe solteira e viveu grande parte de sua infância na Indonésia (maior país islâmico do planeta). “Uma estratégia freqüente na campanha do Partido Republicano, é levantar eventuais falhas do passado de seu adversário para desmoralizá-lo”. Continua a professora: “se Obama for eleito representante dos democratas, a semelhança do seu nome com a de Osama será apenas o começo dos ataques da oposição”.

A rápida e inesperada ascensão de Obama surpreendeu a todos, inclusive a sua co-partidária Hilarry Clinton. A ex-primeira dama, antes dada como favorita dentro do Partido Democrata, vê agora sua candidatura ameaçada pelo jovem senador e assumiu uma postura mais agressiva. “Enquanto Hillary e Obama trocam ofensas, John McCain, já eleito representante dos republicanos, se fortalece”, conclui Rubea.

Diplomata americano palestra na PUC-Rio.

A corrida presidencial vem se desenhando num clima polêmico. O atual cenário político e o sistema eleitoral norte-americano foram o assunto da palestra do diplomata dos EUA John D’Amicantonio, que veio a PUC-Rio no dia 5 de março. “Esta eleição é a mais controversa dos últimos anos. Mais tarde, ao se estudar as eleições nos EUA, a de 2008 será certamente lembrada” Assim começou, animado, o diplomata. “Pela primeira vez, na história dos EUA, tanto um negro como uma mulher tem chances reais de chegar à cobiçada Casa Branca”.

Segundo D’Amicantonio, a força, nada convencional, de ambos representa uma mudança no modo de se pensar política nos EUA. “Obama e Hillary vêm com discursos afiados contra o governo atual, isso entusiasma os eleitores, principalmente os jovens e os cansados do governo Bush”, afirma. A retirada das tropas do Iraque e a crise econômica do país são constantemente lembradas por ambos os candidatos. “A ex-primeira dama dá mais ênfase aos problemas econômicos, enquanto o senador fixa o prazo para o fim da ocupação no Iraque e promove ruptura com o governo republicano”, analisa o diplomata. John McCain é menos tradicional quanto às premissas de seu partido, suas idéias simpáticas a projetos de anistia de imigrantes ilegais assusta os mais conservadores, mas atrai os eleitores de centro. Por outro lado, McCain é favorável a Guerra do Iraque e pretende, se eleito, enviar mais tropas, medida atualmente impopular nos EUA. “Ele (McCain) pode acabar perdendo votos, pois o foco atual dos eleitores passou da ocupação do Iraque à crise econômica”, conclui D’Amicantonio.

Quanto ao troca-troca de nomes, Obama e Osama, o diplomata não atribuiu muita importância. “Não passa de uma brincadeira, uma piada, não acredito que venha a ter relevância”. Pode até ser, mas convenhamos, piada de mau gosto.

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