domingo, 27 de abril de 2008

“Uma onda que a droga não deu.”

Disposta a levar jovens para o caminho de Jesus, a igreja evangélica Bola de Neve aposta numa linguagem informal e cresce sem parar.

“Caia babilônia. Caia babilônia. Caia babilônia”. Jovens cantam e dançam seguindo os passos de uma dançarina que agita lenços coloridos. Inicia-se mais um culto no Bola de Neve Church. No templo, em frente à praia do Pepe, na Barra, o surfe, o reggae e a pregação se confundem. O salão, com capacidade para 700 pessoas, já está pequeno. Skatistas, Surfistas, malhadões e gatinhas dispostos a abandonar vícios e incorporar a mentalidade evangélica, constituem o rebanho, cada vez maior, da igreja.

A pastora Priscila Mastrorosa começa a reunião com informativos do Bola: notícias da nova sede inaugurada em Macaé e comentários sobre a reportagem que saíra na revista “Isto é” no dia anterior falando da igreja. “Eu xinguei tanto o diabo, o papa e os macumbeiros e eles não colocaram nada”. Do que realmente saiu na matéria, ela utiliza-se da declaração do professor Eduardo Refkalefsky, da UFRJ, para passar uma mensagem aos fiéis. “Eles não entendem por que a gente bota uma prancha aqui na frente, fala nada com nada e a igreja não para de crescer. Eles acham que a gente só faz marketing o dia inteiro. Mas o que acontece é que o sangue de Jesus está presente aqui, por isso vamos continuar crescendo”.

De fato, o crescimento exponencial das igrejas evangélicas no Brasil é algo surpreendente. A Bola de Neve, por exemplo, cresceu 1.100% nos últimos anos. O segredo? Uma linguagem informal, carregada de gírias, imagens de esportes radicais ilustrando as paredes, púlpito em forma de pranchão longboard e um culto pra lá de animado embalado pelo pop, reggae e rock. Mesmo com tantos atrativos, os ensinamentos bíblicos continuam sendo o centro das atenções. Profundamente envolvidos pela “palavra de Deus”, durante o momento da pregação, os jovens se emocionam e, vez ou outra, um grito de “Glória a Deus!”, “Aleluia!” ou “Em nome de Jesus” pontua a fala da pastora.

Além dos cultos, que acontecem duas vezes por semana, a organização conta com “Células”, grupos que se encontram para promover a integração entre os membros da igreja; Programas como o “Nova Vida”, direcionado para recuperação de dependentes químicos e o “Louvor” que organiza e escala os músicos da banda da igreja. Renata, 25 anos, participante da igreja a dois anos e meio, é diretora do projeto “Ministério infantil”. Ela descreve o programa voltado para os filhos dos freqüentadores do grupo. “Nosso objetivo é pastorar a vida dessas crianças, introduzindo-as desde cedo à palavra de Deus e ensinando-as, também, a pregar. Nosso intuito é que elas levem a palavra do senhor para seu ambiente, para os amiguinhos da escola e também tragam questões de fora para discutirmos aqui”.

Criada em São Paulo, em 1999, pelo dublê de surfista e pastor Rinaldo de Seixas Pereira, de 35 anos, a Bola de Neve Church carrega o slogan “in Jesus we trust” e pretende "saquear o inferno e resgatar as vidas que estão presas pelas forças do maligno", como está descrito no site oficial - http://www.boladenevechurch.com.br/. Este é moderno e interativo. Nele pode-se ver cultos ao vivo, acessar à bíblia on-line e ainda testar os conhecimentos bíblicos em um quiz. O site conta também com dados de uma conta bancária destinada àqueles fiéis que queiram fazer uma doação extra.

No que diz respeito à arrecadação financeira, o Bola também se diz autêntico. Diferente de outras instituições evangélicas, onde se sistematiza a cobrança do dízimo em um valor pré-estabelecido, no templo da moçada uma urna é colocada no altar durante o culto e os fiés depositam a quantia que julgam razoável. O hábito de pagar o dízimo, no entanto, é sempre lembrado pelo pastor como uma atitude nobre. “Você faz por caridade. Se você tem vontade de salvar vidas, dá o dizimo. Se você acha que vai longe com o pouco que tem, você vai desobedecer à bíblia, desrespeitar a Deus e arrumar encrenca pra sua vida. Mas a gente te deixa à vontade e te dá livre-arbítrio para decidir”, disse a pastora Priscila durante o culto.

O dinheiro arrecadado financia as ampliações das igrejas e a construção de novos templos, mas ao que parece, ainda não fez o pastor enriquecer. “Não pretendo construir um império,” afirma Rina em entrevista para a revista Época em 2003. Hoje a igreja conta com uma estrutura sólida, instalada em 75 templos espalhados em 11 estados brasileiros e ainda com representação internacional na Austrália, Peru e Rússia.

Após mais de duas horas de sermão, o culto se aproxima do fim. Todos se levantam, a banda volta aos seus lugares e os louvores são retomados energicamente. No fim da noite, os fiéis voltam para as suas casas em paz e entretidos. Afinal, como a própria pastora disse: “A Bíblia é o melhor roteiro de Hollywood”.

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